Paulo estava internado em
um hospital particular, por ter tentado pela terceira vez dar cabo da
própria vida. Ninguém conseguia convencê-lo, que poderia resolver
todos os seus problemas, se tivesse morrido. Por mais que as pessoas
o encorajassem a viver, nada surtia o efeito desejado.
De repente um médico
entrou em seu quarto, para verificar os cortes que havia feito nos
pulsos e tirar a pressão arterial. O que o diferenciava dos outros
médicos foi a utilização de uma muleta. O doutor não tinha uma
das pernas. Aquilo chamou a atenção de Paulo.
– Bom dia! Como estamos
hoje? – disse o doutor olhando os pulsos do paciente.
– Péssimo! Eu queria
estar morto! Por que não me deixaram morrer!
– Não posso deixá-lo
morrer!
– Deveria! Assim
poderia dar mais sossego a todos. – disse Paulo cheio de razão.
– Primeiro eu não
posso deixá-lo morrer, porque fiz um juramento! Minha obrigação é
fazer de tudo para salvar um paciente... Hum! Parece que irá
cicatrizar rapidamente estes ferimentos.
– Estou cheio de
dívidas e desempregado.
– E com plena saúde! –
disse o doutor, depois de ter tirado a pressão arterial.
– Não tente me
convencer que viver é uma solução!
– Não estou aqui para
convencer ninguém! Estou aqui para fazer o meu trabalho!
– Tô sabendo doutor!
Só porque está de muletas, está tentando me convencer a não tentar
novamente!
– Eu não estou de
muletas por sua causa, além do mais senhor... – disse ele olhando
o prontuário médico do paciente – Paulo... Pelo que eu vejo o
senhor gosta de franqueza, não é?
– Gosto! Gosto muito
que as pessoas sejam fancas comigo! Até agora só vi gente babaca
tentando me enrolar! Não sabe eles, que a salvação de todos está
na minha morte.
– Então eu vou ser
franco contigo!... Você é o cara mais egoísta e covarde que já vi
na minha vida!
– Como egoísta e
covarde?
– Você enche o peito
dizendo que irá resolver todos os problemas econômicos de sua
família com a sua morte!
– Claro que sim!
– Aquela linda esposa,
com duas crianças pequenas no hall do hospital são a sua esposa e
filhos?
– Sim! São neles que
eu estou pensando!
– Não, você está
pensando em si mesmo, fugindo da situação!... Sua dívida não
morrerá com você e sim será transferida para eles. Belo marido!
Belo pai, você é! O que aquelas crianças, quando crescerem irão
pensar? A vergonha fará parte de toda vida delas: egoísmo... E o
que me diz da sua esposa, que precisava de seu apoio na hora que ela
mais necessitava:covardia!
Paulo ficou assustado com
a reação doutor e não falou mais nada.
– Você é um homem de
sorte, sabe por que? Deus foi caridoso contigo e te deu três chances
de viver ao lado de sua família... Bem, era isso o que eu tinha para
dizer. – falou o médico saindo do quarto, apoiando-se na bengala.
Paulo passou aquela noite
no hospital pensando muito no que o médico havia dito e no dia
seguinte, quando a enfermeira veio trazer-lhe os remédios, ela foi
categórica.
– Você conheceu o
doutor Douglas? – disse ela suspirando de tristeza – Ele perdeu a
família toda em um acidente de carro... Ele se salvou, porque ele
perdeu a pena, quando foi arremessado do veículo, no impacto com um
caminhão que vinha pela contramão.
Paulo voltou para casa e
nunca mais pensou em se matar.
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